(e afinal, descobres que apenas te enganavas a ti próprio. Quando dizias que já não havia nada, o tudo estava a expandir-se. Alimentava-se de cada sorriso, suspirava em cada pestanejar.

Mesmo não querendo estavas a voltar a acreditar, não nele, em vós! E por mais impossível que isso parecesse, parecia que alguém queria. )

Aiii, como eu temia isto, como eu temia que o teu ocasional calor me voltasse para assombrar. Que me voltasse a fazer querer o que já sabia não funcionar. Que me voltasse o desejo constante do raro beijo teu.

Pedia só uma escala temporal diferente, ou simplesmente conhecer-te numa outra vida....

Tive-te,

Tive-te por um dia,

Tive-te somente por umas horas,

Talvez, nuca te tive concretamente,

Tive-te platonicamente,

Ter-te ou possuir-te, eis a questão.

E o ideal era ter-te: todo e uno!

Ter-te a alma e ficar com coração!

Sabes, a tua falta está-me a sufocar. A falta do teu calor deixa-me gélida. E o teu cheiro ainda o imagino em mim. Mas apesar de tudo, quero-te aqui! Quero que me dês a oportunidade de te fazer feliz. Deixa-me tentar pelo menos!

Sabes, eu também tenho medo. Tenho medo de não conseguir ser feliz. Medo de não te conseguir fazer feliz. Mas podemos por de lado os medos e tentar! A pior das sensações é saber que podíamos e não tentamos, arrepender-nos do que não fizemos!

Talvez, muito provavelmente, vou esperar utopicamente por uma chamada tua esta noite. Vou esperar acordada para ouvir o telemóvel tocar e do outro lado uma voz familiar me mandar abrir a porta, para puder subir.

Admito que não estou loucamente apaixonada, e sei que tu também não o estás! Mas sei que gosto o suficiente para tentar! Queres tentar comigo?

Com segundas intenções ou apenas como um ato de cavalheirismo acompanhaste-me até casa! Podia-se ter dado naquele minúsculo elevador, mas não! Preferimos a gélidas escadas junto à porta...

A conversa ainda não tinha acabado, mas eu já estava entregue: sã e salva. E, daí surgiu outro convite, e assim continuamos a conversa sentados nos degraus. Entre bocejos e risos, os nossos rostos tocavam-se timidamente!

Ouvimos o elevador, e um silêncio sarcástico inundou o ar! Qual era a probabilidade de parar no 4º andar? E não é que parou mesmo! Mal a porta bateu, soltamos ambos uma gargalhada E por sua vez, a luz da entrada apagou-se, e de forma sonolenta encostei-me no teu ombro! E foi assim, que as nossas respirações quase se sincronizaram, podia sentir a tua pulsação despromovida de ritmo. E de forma lenta e harmoniosa as nossas almas se fundiram, e os lábios se tocaram. E, assim, pela primeira vez beijámo-nos...

Sabes, por instantes dei por mim a rezar! A quê não sei bem, até porque sou agnóstica! Pedia apenas que o tempo passasse mais rápido, que os minutos fossem segundos! Porque o medo de te perder para o tempo era angustiante, e nunca uma semana foi tão longa para mim! Ver-te uma ultima vez era tudo o que ansiava e o motivo das minhas agnósticas rezas... E por esperares por mim, OBRIGADA CAMPEÃO! Obrigada por esperares. Poder passar-te a mão no pêlo outra vez foi talvez das melhores sensações! Provavelmente amplificada pelo facto de estar consciencializada que seria o melhor! Não o melhor para mim, mas para ti... Nunca algo me tinha custado tanto a decidir, e nunca nenhuma decisão tinha levado uma parte tão grande de mim com ela! Aqueles últimos minutos aproveitei-os da melhor maneira! Foi aquela sensação que éramos apenas nós, que o tempo tinha parado, e só nós importávamos.... O teu respirar estava cada vez mais difícil, e o ritmo com que o fazias era notoriamente penoso para ti! Foi difícil de te convencer a baixar a cabeça, mesmo imóvel, não querias desistir. Apoiaste a cabeça na minha mão, mas conforme eu a ia baixando tu não querias... Após sucessivas tentativas, tu lá acabaste por a baixar, foi difícil de te convencer campeão! Mas quando o fizeste aí eu soube que tinhas acabado de desistir, que já não querias sofrer mais. E que tudo o querias, tinhas tido! Tinhas esperado por mim para te despedires e fizeste-o da melhor forma! Mas estavas cansado e era a hora de acabar com isso... Não conseguias comer nada há uma semana, mas naquele dia encheste-te de forças e caminhaste até à porta porque nos ouviste a falar com a veterinária. Mas destas vez não a conseguiste abrir como era habito teu... Mesmo tão debilitado obedeceste quando te mandei deitar! E sem recompensa por incrível que pareça! Sabes tenho saudades tuas! Ainda chamo pelo teu nome, só que tu já não vens! O Rex e a Lacy também sentem a tua falta, acho que ainda não se habituaram a não ter alguém a liderar a matilha! Sabes, pode ser que todas as minhas não crenças estejam erradas, e que num futuro próximo nos encontraremos. Talvez a inorgânica da orgânica nos funda num só, ou o paraíso dos homens e dos cães seja o mesmo! Mas até lá recordo-te ... E vê se entretanto aprendes a beber água e te convences que na realidade tu é que és o cão e não eu, e se deixas de ser interesseiro como só tu sabes.

Obrigada por estes 9 anos! És o meu campeão e acima de tudo, o meu amigo.